domingo, 8 de outubro de 2017

Integração




Deitado no chão, fofo de tantas chuvas,
acompanho as pontas dos cipós que oscilam,
o respirar das folhas,
o saltitar de cócegas nas patas dos gafanhotos,
e o crescer rampante da trepadeira brava,
avançando em meus braços.
Oh! a canção viva
do liso verde-azul dos sanhaços nos galhos,
e o pio dos gaturamos maduros,
fino e gostoso como um caldo de fruta!…
O céu,
limpo, azul e côncavo, na altura,
é um recanto de corpo,
pronto a se contrair, ao primeiro contato,
num único espasmo de volúpia sóbria…
Inútil erguer-me: mais alta é a gameleira…
Mas meus dedos afundam no chão amolecido,
como raízes nuas…
Desce-me ao fundo do peito e terra inteira,
no cheiro molhado da poeira,
e os meus olhos sobem, tateando os verdes…

 João Guimarães Rosa 
do livro “Magma
imagem Vania Macedo

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