domingo, 18 de março de 2018

Eu sou vertical



Gostaria de ser horizontal.
Não sou árvore com raízes no solo
Sugando os minerais e o amor da natureza
Para em cada maio reluzir-me em folhas.
Nem sou como os encantos de um canteiro
Atraindo um quinhão de Ahs! com minhas flores
Sem saber que em breve estarei despetalada.
Comparada comigo, a árvore é imortal
E o canteiro não me sendo mais alto, é mais surpreendente,
E quisera desta a longevidade e daquele a insolência.
Hoje, diante da luz infinitesimal das estrelas,
As árvores e flores destilam seus frescos odores
E caminho entre elas, sem me notarem.
Às vezes penso que, quando estou dormindo,
É quando de fato mais me pareço com elas.
Os pensamentos se esvoaçam.
Para mim é mais natural estar deitada
Quando o céu e eu entramos em conversa franca
E me sentirei útil quando estiver estendida para sempre:
Então as árvores poderão tocar-me, e as flores terão seu tempo para mim.

Sylvia Plath
tradução Ivo Barroso


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