Há uma hora de sol alto, hora de
Meio-dia, em que a verdura dos prados se
Levanta como um grito de pés descalços.
Há uma hora desnuda, ligeira e solene como um
Render de guardas, em que o fio das baionetas
Vigilantes esplende à luz sem mistério.
Há uma hora, só uma hora, de alto e intemerato
Meio-dia, em que o sol é alto, e a vida é alta, e
Altas são as torres do futuro. Há um momento de
Alto horizonte, em que as horas todas se perfilam
Como um exército obediente, aguardando a sua
Ordem .Essa hora, entretanto, passa, como passam
As gaivotas sobre o mar. Essa hora, entretanto, passa
Como passam as crianças, de volta da praia ou do
Campo de folguedos. Essa hora, entretanto, passa
Como passa o meio-dia, e o sol do meio-dia, e a luz,
Em revérbero, do meio dia. E passa o meio-dia, com sua
Luz plena, e passa a plenitude do meio-dia, e passa a
soberana estação sem mistério, e passa a palavra
Rude e sem medo, e passa o atrevimento dos olhos que
Desafiam o sol em seu pináculo. E a terra, em seu giro
se movimenta, no silêncio de seu voo sem asas. E a
Terra passa, como passa o sol do meio-dia .E a hora de
Esplendor intemerato passa, como passaram a terra e o sol
Do meio-dia. E as sombras crescem, para o rumo da tarde,
E as sombras, destronado o meio dia, crescem, lentas e
Inexoráveis como a tarde que desce sobre as coisas. E as
Sombras se esticam sobre as casas, sobre as praias, sobre
O mundo, e as sombras se esticam sobre os colégios e
Orfanatos, sobre os hospitais, sobre os asilos, sobre o
Sofrimento do mundo. E o sol - Oh! sol do meio-dia! - se dobra
Na direção do retorno, e o crepúsculo com suas luzes brandas
Começa a tecer seus véus . E o mistério - adeus! sol do meio-
Dia, adeus! fala agora a sua língua e acende o seu
Rito. E o mistério cobra o seu tempo, e povoa de seus vergéis
As pradarias sossegadas. E o mistério cobre de sua luz os
Tetos das casas, e fala a sua palavra sem pressa, e ensina
A paciência ao impaciente, e a espera ao que tem fome e
Sede de mundo. E ensina às mãos que antes se crispavam os
[gestos
De despedida. E dita o silêncio ao que antes falava, e pousa
Sobre os lábios férvidos a paz de sua marcha para a noite
Que ele traz, embalada, em seus braços.
Hélio Pellegrino
de Minérios Domados - Poesia Reunida