Caminho pela encosta de uma colina verdejante
Grama, florzinhas na grama,
como numa gravura para crianças.
O céu nevoento já azulando.
A vista de outras colinas se amplia em silêncios.
Como se aqui não tivesse havido cambrianos e silurianos
rochas rosnando uma para a outra,
abismos elevados,
noites em chamas
e dias em nuvens de escuridão.
Como se por aqui não tivessem se movido as planícies
em delírios febris,
calafrios gelados.
Como se só alhures tivessem fervilhado os mares
e rompido as margens dos horizontes.
São nove e trinta, hora e local.
Tudo no lugar e em assente concórdia.
No vale, um riacho pequeno como riacho pequeno.
Um caminho em forma de caminho desde sempre e sempre.
Um bosque simulando um bosque pelos séculos dos séculos, amém,
e no alto, pássaros em voo no papel de pássaros em voo.
Até onde a vista alcança, reina aqui o instante.
Um daqueles instantes terrenos
que se pede que durem.
Wislawa Szymborska
de Um amor feliz
(tradução de Regina Przybycien)
arte Vincent Van Gogh
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