terça-feira, 12 de novembro de 2019

SONETO


"Carta Íntima"

Que este soneto, assim, feito ao correr da pena
Possa, filha, dizer-te o que a voz te não diz,
Porque este afeto excede a linguagem terrena,
E não tenho expressões se te vejo infeliz.

Se a vida te corre, acaso, alegre e amena,
Ouve, em vez da minha, as mil vozes hostis
Em que buscam, os teus, nos infligir a pena
De curvarmos a alguém, humildes a cerviz.

Tu, que foste, que ainda és e que serás, por certo,
Aquela que, jamais, do interesse ouve a voz
Mais longe estás de mim quando de ti estou perto!

Deves, porém, saber que, quando fico a sós,
A própria multidão, para mim, é um deserto,
Porque o mundo não és, nem eu sou: somos nós!

Emílio de Menezes
de Esparsos e inéditos/Poesia lírica
arte Pino Giuseppe Dangelico


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