terça-feira, 19 de outubro de 2021

POEMAS DA CASA



1

Lentamente o Outubro
Penetra tua voz.
A um som de piano
Renascem borboletas.
Ai quem me dera
Fixar este momento
- Como uma pluma.

2

O amarelo desentranha
Procissões submersas,
As cadeiras florescem
Como prados ou túmulos.
As vozes suspendem
Teu vestido de noiva
- E súbito desapareces.

3

O teu perfil está colado à parede
Como um cartaz irrepreensível.
Todas as forças do caos
Se concentram no estuque.
Entre teto e poltrona
o indefinível azul.
Juntos sem o saber
Conjugamos os verbos essenciais.

4

Teu soluço é uma flor
Que irrompe do assoalho.
Os pés adquirem uma vida
Misteriosa e sutil.
Das flores que a mão cultiva
- Só permanece uma última.

5

As jarras têm uma sabedoria
Que a tua inocência ignora.
Meu desejo renova as águas
E as provisões de carinho.
No lenço branco fica o teu nome
Gravado em rosa e laranja.
Nos perderemos um dia
- Como um grito.

6

Os arabescos de madeira
Já nada podem contra ti.
Teu vestido negro reluz
Com o o perdido diamante.
Nada fazes que não seja teu
- E teu nome se perde.


Hélio Pellegrino
de Minérios Domados
arte Abbott Fuller Graves

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