terça-feira, 25 de outubro de 2022

A DEMORA


O amor nos condena:
demoras
mesmo quando chegas antes,
Porque não é no tempo que eu  te espero.

Espero-te antes de haver vida
e és tu quem faz nascer os dias. 

Quando chegas 
já não sou senão saudade
e as flores
tombam-me dos braços 
para dar cor ao chão em que te ergues.

Perdido o lugar
em que te aguardo,
só me resta água no lábio 
para aplacar a tua sede.

Envelhecia a palavra,
tomo a lua por minha boca
e a noite, já sem voz,
se vai despindo em ti.

O teu vestido tomba
e é uma nuvem.
O teu corpo se deita no meu,
um rio se vai aguando até ser mar.

Mia Couto
de Poemas escolhidos
Arte Dorina Costras



 

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