terça-feira, 25 de outubro de 2022

SAZONAIS ETERNIDADES

 


Abres-me, janela,
e antigas memórias
me salpicam o rosto,
chuvas ainda por desabar.

Escancaradas portadas,
devolvem-me o corpo,
esse mesmo corpo
que, para febre e desejo,
em outro corpo acendi.

Abres-me, saudade
e o tempo se descalça
pra atravessar
incandescentes brasas.

E quando,
de novo, me encerras
volto a dormir
como dormem os rios
em véspera de serem água.

A saudade
é o que ficou
do que nunca fomos.

Mia Couto
de Poemas Escolhidos
Arte Trish Biddle


Nenhum comentário:

Postar um comentário