Feliz ano...Hoje que tensminha terra a teus dois lados, és feliz, irmão.Eu sou errante filho do que amo.Responde-me, pensa que estou contigoa perguntar-te, pensa que sou o vento de janeiro,vento Puelche,* vento velho das montanhasque quando abres a porta te visitasem entrar, ventilando suas rápidas perguntas.Dize-me, entraste por um campo de trigo ou decevada,estão dourados? Fala-me de um dia de cerejas.Longe do Chile penso num dia redondo,cor de amora, transparente, de açúcar em cachos,e de grãos espessos e azuis que gotejamem minha boca as suas taças carregadas de delícia.Diz-me, mordeste hoje a anca purade um pêssego, e enchendo-te de imortalambrosia,até que também foste fonte da terra,fruto e fruto entregues ao esplendor do mundo?
Pablo Neruda
de Canto Geral
de Canto Geral
*Vento Puelche; vento leste, que vem da cordilheira para o mar.
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