quarta-feira, 23 de novembro de 2022

NESTE TEMPO

 

 Feliz ano...Hoje que tens 
minha terra a teus dois lados, és feliz, irmão.
Eu sou errante filho do que amo.
Responde-me, pensa que estou contigo
a perguntar-te, pensa que sou o vento de janeiro,
vento Puelche,* vento velho das montanhas
que quando abres a porta te visita
sem entrar, ventilando suas rápidas perguntas.
Dize-me, entraste por um campo de trigo ou de 
         cevada,
estão dourados? Fala-me de um dia de cerejas.
Longe do Chile penso num dia redondo,
cor de amora, transparente, de açúcar em cachos,
e de grãos espessos e azuis que gotejam
em minha boca as suas taças carregadas de delícia.
Diz-me, mordeste hoje a anca pura
de um pêssego, e enchendo-te de imortal
          ambrosia,
até que também foste fonte da terra,
fruto e fruto entregues ao esplendor do mundo? 

 

                                        Pablo Neruda 
                                       de Canto Geral 

                      *Vento Puelche; vento leste, que vem da cordilheira para o mar.
   


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